Eu tremi durante o TP. Mas tremi muito. Constantemente. Não
conseguia parar, minhas pernas se debatiam loucamente e isso me irritava. Frio,
frio, muito frio. Me cobre! Até chegar a contração. E aí voava coberta para
todo lado, muito, muito calor!
Chegou a anestesista. Senta na maca, apoia na enfermeira.
Fica bem imóvel agora. Rá! Como assim? Eu tremo, Dra! Muito! Contração. Não se
mexe! Não dá! Pronto. Daqui a pouco melhora.
Aos poucos a dor foi aliviando. Eu era uma nova pessoa! O
sono passou e a festa se instalou na sala. Todo mundo conversando, rindo, uma
beleza. Espero 40 minutos e a Dra. Cátia pede para que eu caminhe para auxiliar
a dilatação. Ainda sinto dor, mas bem mais fraca. Saio para o corredor, marido
me acompanha e carrega o soro. Ando. Volto, todo mundo dormindo, exausto, devem
ser umas 5h00. A dor está voltando a ficar forte. Elas dizem que é melhor
reforçar a anestesia antes do pico da dor, então recebo mais uma dose. Dra.
Cátia verifica o cardiotoco e vê que as contrações estão mais espaçadas. Droga,
é a porcaria da anestesia. Dá-lhe ocitocina. Tudo o que eu não queria! Mas
agora não tem mais jeito.
Esta dose foi mais forte, não sinto mais nada. Fico triste,
não era isso que eu queria. Mas vamos lá. Dra. pergunta se estou com vontade de
fazer xixi, às vezes a bexiga cheia dificulta a descida do bebê. Digo que não
sei, não estou conseguindo sentir. Ela pede que eu faça força enquanto me toca.
Faço xixi nela e nem percebo. Vergonha define! Rs! Agora acho que vai.
Toque. 9 cm. Está perto, muito perto! Começo a entender o
que aquilo significa. Comento com marido: “amor, o Bento vai chegar! Todo este
processo vai levar ao nascimento dele!” Parece que a gente se esquece disso por
alguns momentos. Me emociono com esta constatação. Começo a me preocupar. Cadê
a pediatra que não chega? Pronto, chegou. Fofa! Ufa! Conversa conosco e diz que
vai tomar um café, mas brinca que nunca consegue e que dá sorte. Me preocupo,
será que dá tempo?
Toque. 10 cm com um rebordo. OMG! Sento no banquinho. Marido
senta atrás de mim e me escora, enquanto Dra. Cátia está sentada no chão. Faz força.
Cadê a pediatra? A anestesia foi forte demais, precisamos sentir as contrações
com a mão na barriga. Droga, não queria estar tão anestesiada assim! Mas agora
é tarde. Me seguro no banquinho e faço força. Muita força. Acaba o ar, inspiro,
seguro e foooorça. Dra. Cátia pede para a força ser mais longa. Vou tentando.
Ela diz que já vê a cabecinha. Tira uma foto e me mostra aqueles cabelinhos
surgindo. Dra. Sandra, a pediatra, volta, rindo, e diz: viu? É só eu sair que
engrena! A anestesista, que também havia saído há pouco, entra na sala
perguntando: e aí? E se assusta ao ver a cabecinha saindo. Rimos e continuo
fazendo força. Maíra tenta escutar o coração do Bento. Nada. Elas se assustam,
mas eu estou calma. Sei que está tudo bem. Muda o aparelho, muda a posição. Lá
estão os batimentos, ótimos como sempre!
Mais fotos, mais cabelinho aparente. Minha sensibilidade
começa a voltar. Sinto que tudo está se esticaaaaaando e sei que é sua
cabecinha saindo. Dra. Cátia, suave como sempre, diz: devagar, agora, devagar.
Assopra o Bento para fora, só assopra. E assim, em um sopro, a cabecinha vem.
Bravo, ele começa a resmungar ali, com o corpinho ainda dentro de mim. Na
próxima contração, mais um sopro. E ele chegou.
Nem sei descrever o que senti. Peguei-o no colo imediatamente,
tentando acalmar aquele corpinho tão pequeno, mas tão forte. Ele gritou, chegou
à vida! E chorou. Pulmões fortes, garganta limpa, mostrou a que veio. Nem
consegui chorar, era muita emoção! Benvindo, meu amor! Benvindo! Te amo, filho!
Olhei para trás,
procurando marido, que se ocupava de avisar do nascimento por whatsapp. Como
assim? Presta atenção aqui! Rs! Dizem que a conversa foi assim: “Está quase, já
dá pra ver a cabecinha. Tá nascendo, saiu a cabeça, tá quase... Perdi!”. É
cômico, mas poxa! Não foi assim que imaginei.
Mas não importa. Ele chegou. Lindo, saudável, APGAR 10/10.
Estamos todos em êxtase, a sala vibra com uma aura clara. Ainda no banquinho,
com ele no colo, sinto algo saindo e chamo a Dra. Cátia: acho que é a placenta!
Corre de volta! Ploft! Saiu, fácil assim. Espera o cordão parar de pulsar,
marido corta o elo que nos ligava como um. E agora somos dois. Dra. Sandra o
pega por um momento, não mais que um momento, e pesa seus 2.725kg. O traz de
volta para mim e ali ficamos. Grudou no meu peito, e eu me grudei nele, como se
o fizéssemos por toda a vida. E mamou o amor que eu transbordava, e nos
conhecemos, e nos amamos por quase 40 minutos. Chegou às 7h14, horário de
verão. Quase 24 horas após o rompimento da bolsa. E ele veio como eu sempre
soube que viria, naquela manhã de domingo que o anunciava desde a gestação,
quando eu assim o cantava:
“Na bruma leve das paixões
Que vêm de dentro
Tu vens chegando
Prá brincar no meu quintal
No teu cavalo
Peito nu, cabelo ao vento
E o sol quarando
Nossas roupas no varal...
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais...
A voz do anjo
Sussurrou no meu
ouvido
Eu não duvido
Já escuto os teus
sinais
Que tu virias
Numa manhã de domingo
Eu te anuncio
Nos sinos das
catedrais...
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais...”
Alceu Valença
A sala de parto é só alegria. Abraços, beijos, fotos,
parabéns por todos os lados. Pega lembrancinha do nascimento para todo mundo,
eu que fiz! E assim, uma por uma, as queridas que participaram do momento mais
mágico da minha vida vão saindo da sala. E restamos nós três, nos conhecendo,
nos reconhecendo como uma nova família.
Ficamos por ali por algum tempo, até que chega a enfermeira.
Têm que levar meu pequeno para passar pela tal alfândega. Droga! Não estou
pronta para me separar daquele corpinho tão indefeso, tão meu, aquela parte de
mim que agora não é mais. Começamos a aprender que somos dois assim, tão
rapidamente, tão abruptamente? “Não vai demorar não, né?” pergunto. Marido vai
junto acompanhar e eu fico ali na sala por mais alguns minutos, até que outra
enfermeira vem me buscar. No caminho, ouço um chorinho, forte, e sinto no meu
coração de mãe que é meu pequeno clamando por estar onde pertence: o meu colo.
Chego no quarto, sozinha e esfomeada. Cadê todo mundo? Estão
lá, babando no pequeno pelo vidro. Chegam mostrando fotos dele, sujinho e
peladinho no berço aquecido. E contando que, em meio a três bebês, marido já
apontou logo ele: olha o nosso amorzinho lá! Logo ouço um barulho no corredor e
digo: deve ser ele! No fundo eu já sabia que era o lanche, mas não custa
sonhar, né? Rs!
Marido dá uma saída rápida no quarto e toca o telefone. É da
enfermaria, pedindo que levem a roupinha dele, que já o trariam. Que emoção!
Logo ele chegou, ainda sujinho de vérnix, no macacão listrado de macaquinho que eu escolhi com todo
o carinho. Eu não me sentia cansada, estava extasiada! Depois de 4 horas fui
liberada para tomar banho por conta da anestesia – mas não entendi nada, já
tinha andado até na sala de Delivery! Foi um alívio, mas fiquei um pouco
assustada com minhas partes baixas super inchadas... Abafa! Rs! Logo começaram
as visitas e à noite a enfermeira quis levar ele para o berçário do andar, já
que ele estava nauseando e vomitando de vez em quando, por conta do líquido
amniótico. Eu relutei, mas deixei, já que ele só ficaria lá por 3 horas. Mas
quem disse que fiquei tranquila? 5 minutos depois que ela o levou, eu já estava
lá, observando pelo vidro. Logo ela voltou: ele não sossegou, queria a mamãe!
Coisa linda! Mamou mais um pouco e ficou lá por pouco mais de 2 horas, para que
dormíssemos – coisa que só aceitei depois de muuuuita insistência da enfermeira
e do marido.
No dia seguinte, recebi a visita da Dra. Cátia que me passou
as últimas recomendações e me deu alta. Não tive laceração, só uma triscadinha,
nas palavras dela. Nada de pontos! Santo Epi-No! Cheguei a 27 cm nos
exercícios, mas acho que eu era mole demais, já que o perímetro cefálico do
Bento era de 33,5 cm! Enfim, no final do dia a Dra. Sandra deu alta para o Bento
também e finalmente fomos para casa, no dia seguinte ao parto. E assim chegou o
momento mais esperado da minha vida, aquele momento que eu tanto invejava quando
visitava a maternidade: colocá-lo no carro e ir para casa! Nossa vida acabava
de começar. <3
Me arrepiei nessa parte: "Elas se assustam, mas eu estou calma. Sei que está tudo bem." Que mulher!!
ResponderExcluirLindo demais o relato, Ló. Todinho. Muito lindo, muito emocionante, muito verdadeiro. Que parto lindo!!!
Parabéns, parabéns!! Quando eu lembro do iniciozinho, das dúvidas, da troca de médico, do seu empoderamento. Nossa... Arrepio constante. Quem dera todas as histórias fossem assim. Parabéns, parabéns!!!
Loroca, eu tb tenho essa música na cabeca e tu nem vai acreditar, mas coloquei ela antes de abrir o teu blog, ou seja, li o teu relato ouvindo a música. Me arrepiei toda, muita coincidencia!
ResponderExcluirA música me veio lá pelo dia 4 ou 5 (quando eu ainda achava que dia 6 seria o dia que meu bebe viria), enfim, já se passaram 2 domingos e nada (minha dpp era terca), mas quem sabe daqui a dois dias.
Lindo o relato, parabéns! Seja bem-vindo Bento!
Bjs,
Elisa
Ai, Loroca, que lindo. Chorei litros aqui...rsrs!! Quanto amor, né????? :)
ResponderExcluirBeijão
Chorei... Mas não chorei pouquinho não, chorei muito. Estou MUITO feliz por vocês. De verdade.
ResponderExcluirVocê já é uma mãe incrível e tenho certeza de que o Bento já sabe disso e vai te fazer ver isso a cada dia que passa.
Beijão!
Conheci seu blog hoje, e tinha momento melhor!?
ResponderExcluirLindo, perfeito! Amo essa música!
Saúde, Bento!
Beijinhos
Lindo relato!
ResponderExcluirliiiindo ameii o relato
ResponderExcluirLinda a chegada do Bento !!
ResponderExcluirMais uma vez parabéns e saúde ao seu príncipe!!
Beijos
Simplesmente LINDO e EMOCIONANTE!!
ResponderExcluirBento chegou de uma forma natural, pura e linda!!!
Bjus
http://seraquevousermae.blogspot.com.br/